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Entrevista - Capitão dos Portos do MA: "Meu próximo porto é Buenos Aires".

  • saulomachad7
  • 14 de jan. de 2016
  • 6 min de leitura

O Capitão dos Portos do Maranhão, Marcos Tadashi Hamaoka, passará o comando da Capitania dos Portos para o seu sucessor, no próximo dia 18 de Janeiro. Em entrevista à Agência Portuária de Notícias, o Capitão dos Portos falou do período que ficou à frente da CPMA, de questões estratégicas para o Estado e de projetos futuros.


AGÊNCIA PORTUÁRIA DE NOTÍCIAS: Capitão Tadashi, como foi a sua trajetória na Marinha até chegar à Capitania dos Portos do Maranhão?


Eu fui um felizardo dentro da Marinha e só tenho que agradecer a Deus por isso. Tive a oportunidade de servir em vários lugares. Estive em Rio Grande – RS, onde temos um grande porto e a Lagoa dos Patos, local de difícil navegação. Também servi em Ladário – MS, e fiz a navegação fluvial de toda daquela região, desde Cuiabá até a foz do Rio do Prata. Tive a oportunidade de servir na Fragata “Constituição”, na Esquadra, em Niterói – RJ. Posteriormente, estive no Comando da Flotilha do Amazonas, em Manaus, onde naveguei praticamente todos os rios do estado. Acho que conheço mais os rios da Amazônia do que as ruas da capital. Eu os conheço de cor. Depois fui para o Ministério da Defesa, onde interagia com outros ministérios e com a Presidência. Em seguida, servi no Estado Maior da Armada assessorando diretamente o Comandante da Marinha. E, por fim, a Capitania dos Portos do Maranhão.



AGÊNCIA PORTUÁRIA DE NOTÍCIAS: O Sr. é considerado pela comunidade portuária maranhense como um dos capitães dos portos mais acessíveis que já tivemos, estando sempre aberto a ouvir as demandas locais. Qual a sua identificação com a comunidade portuária e com a cidade de São Luís?


Muito obrigado pelo reconhecimento. Esse é o meu jeito de ser. Não adianta eu chegar aqui para impor apenas as minhas vontades. Não é assim que funciona viver em sociedade. A gente tem que procurar entender todos os lados. Eu cheguei aqui, numa terra diferente, uma terra muito rica em biodiversidade, onde temos metade Amazônia Legal e metade Cerrado. Então, procurei sempre ouvir a comunidade portuária e os entes do setor. Essa é uma terra muito acolhedora. Eu e minha família só temos a agradecer a acolhida do povo maranhense aqui. E fiquei muito satisfeito em ter a oportunidade de servir aqui.



AGÊNCIA PORTUÁRIA DE NOTÍCIAS: Quais foram os principais desafios que o Sr. enfrentou à frente da CPMA?


O dia-a-dia. É importante não ter medo de errar. Não ter medo de resolver. Sempre decidir e manter a cabeça erguida. E eu consigo decidir, entre outras coisas, porque tenho meus assessores na CPMA. Mas a comunidade marítima também funciona como um assessor especial. Eles se manifestam e dizem que de tal modo é melhor do que de outro. Assim, vou indo e vou decidindo com as informações que me chegam. Então, foi difícil? Foi. Mas, conseguimos com o apoio de toda a comunidade marítima.



AGÊNCIA PORTUÁRIA DE NOTÍCIAS: No período que lhe antecedeu, a CPMA enfrentou o acidente com o navio Vale Beijing no Terminal da Vale, no final 2011; o naufrágio da plataforma Sep Orion, no final de 2012, no Terminal Ponta da Madeira e o encalhe do Vale Indonésia, em setembro de 2013. O seu mandato foi marcado por um menor número de acidentes envolvendo navios de grande porte. Qual a estratégia utilizada na sua gestão quanto à segurança da navegação?


Eu não tenho nenhuma crítica a fazer a meus antecessores. É sempre importante incutir na cabeça, não só da comunidade marítima, mas de toda a população, quanto a necessidade da segurança no tráfego aquaviário, de maneira que eles possam agir sempre como meus fiscais, meus olhos, porque eu não posso ser onipresente. Nem o meu pessoal. Então, eu preciso do feedback da população por intermédio das denúncias para que a gente sempre possa estar orientando e corrigindo. Sempre. Não só punir. Eu sou o órgão fiscalizador, mas é sempre importante orientar, ensinar e na segunda ou na terceira vez a gente pune. Mas sempre orientando e ensinando. A prevenção é o mais importante. E creio que tive um pouco de sorte também. Graças a Deus não aconteceu nada de grave. Eu fico satisfeito. Isso é o resultado do trabalho de toda a população. De toda a comunidade marítima.



AGÊNCIA PORTUÁRIA DE NOTÍCIAS: Recentemente o navio Haidar, de bandeira libanesa, naufragou no Porto de Vila do Conde, com 5 mil cabeças de gado a bordo. O embarque de boi vivo foi deslocado para o Porto do Itaqui. Como a Capitania dos Portos atuou nessa questão?


Nós tivemos algumas reuniões com o setor de operação do Itaqui e definimos em quais pontos nós deveríamos tomar cuidado. Nós delineamos e trabalhamos juntos. É sempre importante trabalhar em conjunto; de maneira transparente, para evitar qualquer tipo de acidente. Infelizmente o acidente aconteceu lá em Vila do Conde, mas acho que traz algo de positivo para o Maranhão. É uma oportunidade porque todo o gado maranhense é vendido como novilho para o Pará. Faz-se a engorda no Pará e o gado é exportado para o exterior pelo Pará. Então, todas as divisas ficavam com o Pará. Agora é uma oportunidade dos pecuaristas maranhenses fazerem a engorda aqui no Maranhão e nós percebemos que temos condições de exportar por aqui. Então, é importante manter o lucro, as divisas e a mão de obra aqui dentro do estado do Maranhão, em vez de exportar e deixar os dividendos lá no Pará. É muito importante os produtores e os frigoríficos se instalarem aqui – porque não temos frigoríficos aqui. É uma oportunidade de negócios para ajudar no desenvolvimento do Maranhão. Acho que tem que se pensar nesse sentido. Tanto os empresários como os políticos e a comunidade marítima também. A comunidade marítima trabalhando bem mostra a oportunidade para os empresários e para os políticos também.



AGÊNCIA PORTUÁRIA DE NOTÍCIAS: Estudos técnicos concluídos em 2011, sob a coordenação do Estado Maior da Armada, apontavam as águas da Ponta da Espera, na Baía de São Marcos, como local que reúne condições técnicas ideais para a instalação da 2ª Esquadra da Marinha. O empreendimento implicaria na transferência para o Maranhão de, pelo menos, 6 mil militares, dentro de um projeto da Estratégia Nacional de Defesa, batizado de “Amazônia Segura”. Como o sr. vê a possibilidade de criação da 2ª Esquadra no Maranhão?


A possibilidade, de fato, existe. O estudo técnico realizado pela Marinha mostra o Maranhão como um dos pontos ideias para a instalação da 2ª Esquadra. A Baia de São Marcos é muito boa. O Complexo Portuário do Maranhão é atualmente o maior em volume de exportação. Economicamente, estrategicamente e tecnicamente é o local ideal. Mas, a decisão cabe ao alto escalão. Ainda não foi batido o martelo. Então, vamos ter que esperar. Mas, acho que a classe política tem que correr atrás para poder trazer a 2ª Esquadra para cá. É uma quantidade de pessoas considerável que gastará os seus salários aqui. Os militares e os dependentes. Além disso, quando se traz navios de guerra com grande quantidade de tecnologia de ponta embarcada, vem com eles o que a gente chama de “rabo logístico”, que são diversas oficinas e fábricas de manutenção de equipamentos de alta tecnologia pra cá. Então isso cria oportunidade e demandas para o desenvolvimento de centros tecnológicos, de escolas técnicas especializadas. É uma oportunidade para a população ter empregos mais qualificados.



AGÊNCIA PORTUÁRIA DE NOTÍCIAS: Especula-se muito sobre o potencial da Baía de São José para a construção de um Porto com capacidade para receber navios. Como o sr. analisa a questão do ponto de vista da viabilidade logística de um porto lá.


É uma grande oportunidade. Ali já se tem conhecimento de que existe um canal, mais ou menos, de 12 à 15 metros, com poucos pontos de necessidade de dragagem. E existe ali, no fundo da Baia de São José, locais com profundidades de mais de 20, 30 metros e com vários pontos e falésias onde há oportunidade de se criar terminais portuários. Ainda falta efetuar o levantamento hidrográfico de toda aquela área. A Marinha não tem feito o levantamento. Ali é ainda uma área não hidrografada. Atualmente, não está entre as grandes prioridades de levantamento hidrográfico na Marinha, mas já está programado e, se algum empresário ou uma cooperativa de empresas privadas achar por bem fazer o levantamento hidrográfico, será bem-vindo.



AGÊNCIA PORTUÁRIA DE NOTÍCIAS: O que o Sr. achou da experiência na academia maranhense como professor de uma Pós-Graduação na área de Logística Portuária e Direito Marítimo?


Foi muita responsabilidade ser um professor desse seleto grupo de alunos que congregam vários profissionais de várias áreas. Eu fiquei bem ansioso. E, no decorrer da aula, fiquei muito impressionado com a qualidade dos alunos e alunas. Foi sensacional a experiência. Só tenho a agradecer ao Dr. Saulo Gomes, Coordenador da Pós-Graduação do Instituto Navigare, pela oportunidade de exercer essa profissão tão importante, que é ser professor. A gente nunca deve reter o nosso conhecimento. É sempre importante transmitir para os outros, especialmente a nossa experiência.



AGÊNCIA PORTUÁRIA DE NOTÍCIAS: Quais são os seus projetos para o futuro? Estará a frente de outro Capitania dos Portos?


Eu sigo ao sabor das ondas. Onde a Marinha manda a gente vai, vamos obedecendo. Meu próximo porto é Buenos Aires. Eu vou estar cursando ali o Curso de Política Estratégica no Ministério da Defesa da Argentina e daqui a um ano estarei voltando para o Brasil, mas não sei para onde. O Comandante da Marinha é quem vai decidir.


 
 
 

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